domingo, 17 de maio de 2009

Nem Pernalonga, nem da Playboy, nem da Páscoa...

Estávamos conversando. Papo normal. Nos perdendo nas palavras e contando sobre as coisas de um cotidiano que não dividimos mais. Ainda era de manhã e o sol de outono aquecia bem timidamente o ambiente.

Quando menos esperávamos, fomos acometidos por uma invasão no apartamento. Uma invasão, cara! E não pense que foi uma invasão pacífica não! Eles eram vilolentos! Eram coelhos saltitantes, loucos, incontroláveis! Coelhos branquinhos com orelhas em pé pulando por todo o quarto! Subiam em cima do computador, pulavam na cama, entravam no banheiro, batiam na janela, socavam no chão, davam cambalhotas e piruetas no ar... Movimentos caóticos e saltos insanos faziam parte da coreografia dos pequenos dentuços de olhos vermelhos.

Os coelhos demoraram um pouco a parar. A freqüência dos saltos era bem menor e tivemos a oportunidade de voltar a conversar. De vez em quando algum roedor sem vergonha pulava por cima de nossas cabeças e apontavámos pra ele. Então, eu fui apontado.

"Ah.. você parece um coelho dançante!"

De repente minha cabeça tinha duas orelhas gigantes. Ríamos contagiantemente da minha cara. Não tinha como não rir. Nesse momento os outros pequeninos voltavam a saltar por todo o quarto. Milhares deles cruzando o ar incessantemente pelo quarto e agora eu tinha duas grandes orelhas em cima da minha cabeça.

As estripulias dos "de pêlo branquinho" continuavam pelo quarto até lembrarmos que os coelhos poderiam utilizar toda a sua agilidade para derrotar os ETs que andam por aí. Com bastante calma os coelhos foram se retirando, e nós não nos demos conta de sua debandada enquanto tramávamos planos pros coelhos contras os ETs...

Quanto aos ETs...? Quem sabe em outra viagem?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Ôba, ôba, ôba, a inferno é só lazer.."

Sexta-feira à tarde. Em casa.
Sentado perdendo tempo, deixava minha mente viajar por entre esquemas táticos e contratos de jogadores. "São dois atacantes titulares, logo preciso de três de substituição imediata e um para casos graves. Ok... Pra último reserva eu tenho o Gilberto, pros imediatos são o Roma e o Pablo Calfaaaaaany...".

A cadeira de plástico da Casa&Video nunca foi confortável, mas também nunca chegou a causar dor. Não conseguia nem respirar direito. Minhas costas doíam como se eu tivesse dormido ao contrário. Ou na calçada. Não conseguia falar nada, só tentar me distrair pra esquecer da dor, mas a tela insistia em manter Pablo Calfany escrito no ecrã. Tentei me levantar mas as pernas cederam. A cabeça rodava junto com os meus dedos que coçavam meu cabelo.

Um impulso e eu consegui erguer meu corpo. Torto. Muito torto. Encostado na mesinha do computador olhei pro sofá. "É pra lá que eu vou...!". Essa era a minha meta. Cambaleante fui andando querendo gritar mas não tinha forças para tanto. Em dois passos cheguei lá. Rápido, não tanto quanto uma maratona. Mas igualmente sofrido. "O sofá! Meu grande prêmio!" Me recostei no desconfortável móvel (que já me deu dor nas costas) e relaxei. Na medida do possível eu tentava desviar minha atenção pra outra coisa, mas eu só conseguia ver as palavras Pablo Calfany no monitor. Prestei atenção na música. "Que baad!..."
Perdi a noção do tempo.

Me levantei e me sentei ao pc. Esquemas táticos, contratos, olheiros, amistosos...
Isso tudo aconteceu em 28 minutos.

"Olha o gooooooool!!! É dele!! Pablo Calfaaaaany... O Santa faz três à zero..."

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Viajo, logo penso, logo existo.

É a sensação de que o tempo parou. Idéias explodem em segundos. Palavras ganham corpo e teorias se desenrolam pelo espaço apertado do quarto. Uma nova reflexão do cotidiano nasceu e não se passaram vinte minutos.

Ou ficamos realmente hiper-produtivos, capazes de construir argumentos complexos e os pensamentos se tornaram mais claros em um estalar de dedos. Ou realmente figuramos seres débeis perdidos numa espécie de transe coletivo, que não resulta em sequer uma narrativa infanto-juvenil.

Se a transcendência implica num deslocamento da alma, ou de um transpassar o corpo, um olhar distante - como em terceira pessoa - sobre a matéria, o corpo e as idéias... Se assim for, penso que experimentamos a pura sensação de transcender. Um estranho gosto do sublime, do etéreo, daquilo que se perde na tentativa de expressão por palavras.

As luzes se tornaram mais intensas, as cores antes vivas agora cintilam, os sons tocam profundo e os sabores nos levam a contemplar o divino, um orgasmo gustativo. Como se, antes, fôssemos cavalos presos a charretes pesadas do raciocínio lógico e tivéssemos os olhos tapados para não enxergarmos um pedaço de mundo além daquele que nos é permitido e que convém aos que nos cegaram e que tem as rédeas nas mãos. Agora somos livres, selvagens, corremos e conseguimos contemplar a plenitude do que nos envolve, e, como se não bastasse, interagir com ela, interferir no seu cenário e intervir no processo do seu desenvolvimento.

Somos considerados loucos porque fomos além. Porque alcançamos um novo patamar. Porque desenvolvemos um novo olhar sobre o comum. Porque não temos mais amarras nos prendendo ao chão. Porque libertamos as idéias. Porque conseguimos, enfim, ser nós mesmos.