domingo, 19 de julho de 2009

Elas.

Um beijo. De repente um beijo. Um muito leve estalo na ponta dos lábios ainda adormecidos , e o dia se apresenta. De cortinas fechadas, o quarto é invadido por um solitário feixe de luz que corta o calor escuro típico. Com os olhos ainda embaçados ele a vê ajeitando os últimos detalhes da blusa e prendendo o cabelo. Recebe mais um beijo e um último cafuné como se fosse um cão peludo e preguiçoso perdido em um cesto de roupas sujas. E assiste, ainda que parcialmente, devido o sono do qual ainda não havia conseguido se despedir, o quarto se encher da clareza matinal quando a porta se abre e escurecer-se novamente despedindo-se do novo dia.

Tudo não pareceu mais que um reflexo, um flash de imagens e sons perdidos no meio de tantos outros sonhos reproduzidos inconscientemente durante o sono. Ainda estava rendido aos calores da cama amarrotada quando, de um canto ela se moveu dissolvida no abafado dos quartos fechados de inverno. Sinuosa e sorrateiramente vinha até o pé da cama. E pelo que ele pôde, comprometidamente, perceber, tinha escapado por uma fresta entre as duas portas do armário. Justamente as duas portas que nunca fecharam. Aquelas características de apartamentos alugados com móveis embutidos. Dentre dezenas de outras coisas, aquelas portas guardavam o pijama e algumas outras pequenas coisas da que saíra mais cedo e despedira-se com um breve beijo.

Responsável por belos textos, canções e louvações, muitos a recebem carinhosamente. Chegam aguardá-la como se, por um momento, se esquecessem da sombra que ela traz consigo sempre que se aproxima. Sempre vista com bons olhos e defendida como uma virgem pueril e piedosa ela se aproxima justamente nessas horas de vulnerabilidade. Um corpo – enroscado num edredom velho e gasto, esparramado por uma cama mal armada que, com custo, se conserva de pé – e uma cabeça, perdida em sonhos mal formulados e entregue ao peso do sono atrasado, constituem uma de suas vítimas mais fáceis.

Caladamente ela sobe até a cabeça escondida debaixo de velhos travesseiros e, com perícia invejável, esfrega o rosto amassado e com a barba rala por fazer passando os dedos por entre os cabelos oleosos de quem bebeu demais e não teve coragem para encarar um chuveiro antes da cama. Com essa espécie de brincadeira com um vira-lata qualquer, ela o tira do estado letárgico e o traz para o escuro vazio do quarto. Sem se espreguiçar ele acorda, esfrega a cara, olha em volta e boceja. Onde está ela? Ela se foi, não era sonho. Era de verdade. Tudo. O beijo, o elástico no cabelo, o botão fechando o casaquinho, as primeiras luzes do dia.

Estalou o pescoço e, como se o barulho dos ossos estalando tivesse liberado alguma tranca ou cadeado, as lembranças estouraram feito boiada e invadiram a cabeça. Era como se ela ainda estivesse ali. Parecia que o lençol ainda mantinha sua temperatura e o cheiro do corpo que amarrotara. No travesseiro, alguns fios dos cabelos cacheados ainda arriscavam irritar o nariz dele, que não abria mão de dormir perto de sua nuca. A roupa no armário o remetia ao momento em que ela se arrumara para dormir, na noite anterior. O mesmo e hipnótico ritual de todas as noites após o banho. Tinha mania de aromas. Estava sempre cheirosa, quando não por fragrâncias e cremes, por seu perfume próprio. Ela estava ali. Era com se todos os seus sentidos, ébrios pela ação daquela que o acordara pela segunda vez, fornecessem provas mais do que concretas para que se afirmasse que aquela, que se perdera na luz do dia lá fora, ainda era presente ali.

Pronto. Estava como um prisioneiro acorrentado àquela cama que há muito deixara de oferecer um nível aceitável de conforto. Um cavalo de haras, trotando em círculos pela área de gramado bem cercada, por onde o permitiram andar. De repente o quarto se tornara uma clausura de recordações onde tudo a lembrava. Cada peça de roupa jogada ao chão, cada almofada desarrumada, cada copo d’água apoiados no chão gelado... Foi atraído como presa fácil e inocente. E então é que ela, a que se revelara no escuro cortado por um feixe luz, apresenta sua verdadeira essência. Muitos não percebem por já estarem entorpecidos com as sensações causadas pelas sintomáticas lembranças. E então, como se anestesiados, expõem o peito à ação lancinante daquela, que pode surgir tanto na ausência matinal, como em insônias desoladoras ou mesmo em domingos ensolarados em um passeio pela praça do bairro.

É dessa que chamam saudade, que, em uma fração de segundos, ele se vê cativo. E se há horas em que ela finge o abraçar como um colo quente de avó – e por isso conquista espaços simpáticos na poesia – na grande maioria das vezes ela aproveita do peito incauto, estufado pelas lembranças, que permanecem a preencher todo espaço útil do cérebro, para impor seus principais golpes. Surpreso, sem qualquer oportunidade de defesa, o peito é comprimido até o limite. Até que, não mais a imagem da noite perfeita com aquela que se foi pela luz da porta ocupe o lugar de destaque nos sentidos, mas a angústia causada pela saudade dela, pela falta que aqueles momentos acomodados no passado fazem.

De tudo que era belo, portanto, a saudade tira a cor. Ou pior, rouba a sua qualidade de etéreo, infindável, e o enquadra em algum porta-retrato imaginário de molduras douradas, velhas e gastas. Aquela tarde de cores quentes, cheia de barulho e movimento passa agora em um filme mudo, em câmera lenta, de poucas cores e segundos. Por um momento o dia, que mal começou, já parece estar na metade. Como se, ao despedir-se do escuro, ela atravessasse uma dimensão. Como se, em outro tempo, agora ela cumpria com seus compromissos e se divertia enquanto ele, estacionado no tempo de seu quarto escuro, ainda tentava acordar de algum sonho.

A saudade não faz com que ele lembre dela. Tenta fazer com que ele a substitua por ela própria, a saudade. A saudade não é nada mais que uma imagem criada daquilo que sai pela porta de luz. Ela não é bela e não é boa. Ao contrário, torna triste aquela que sorri, paralisa a que se movimento e prensa toda sua beleza em uma tela plana de fundo amarelado. Ela é capaz de tornar afastada aquela que, minutos atrás, dormia com ele. A saudade, até mesmo, transforma um beijo de bom dia em uma despedida melancólica.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Só digo uma coisa... Família é muito mais do que isso! Família é o que te define.

É... Família...

Entre alguns devaneios que já tive, não existe a possibilidade de deixar esse de fora.

Acho que todo mundo pensa num modelo de família perfeita, modelo este que pretende adotar para a sua própria, obviamente. Acredito que por mais que as vezes procuremos não pensar no dia em que tenhamos uma família formada, mas é inevitável que de vez em quando a gente se pegue imaginando como seria. Enfim, estou aqui para contar sobre a minha.

Sabe aquele modelo de família perfeita? Sem brigas, sem problemas, tudo sendo resolvido em panos limpos? Aliás, ao meu ver, família é um grupo de pessoas que podem ter a liberdade de falar tudo o que pensam, porque afinal, está tudo em família. Independente de quem seja (quero dizer, família não se escolhe né? - dependendo do ponto de vista). Não interessa.

Mas, voltemos ao devaneio. Um dia..

Quando já tiver filhos casados, netos...
Unir toda a família nos finais de semana na casa do vô, um sítio próximo à uma cachoeira, onde toda a família se reuniria para conversar e passar o dia inteiro juntos. Poderíamos jogar, trocar muitas idéias e resolver todos os problemas que estivéssem em voga dentro deste círculo. Por que não fazer um dia sagrado pra todos da família se encontrarem?

Afinal, quem foi o louco que disse que família é problema? Ela só não é problema se os seus membros fizerem dela um ideal perfeito. Família, afinal, é para isso.

E que depois que eu O encontrar, que este lugar continue tendo este significado. Que continue sendo uma zona de paz pra toda a família. Um símbolo (algo que eu acredito que muitas, muitas, mas muitas famílias não sabem o que significa à décadas...).

Que toda família tenha um ponto de encontro, um ponto de harmonia, um ponto familiar.