sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Episódio num vagão do Metrô (Retirado do meu blog Clipes de Pensamentos)

Estava no metrô do Rio de Janeiro indo para a faculdade, em pé, pensando na vida e também como o trem estava ficando cheio. De repente ouvi atrás de mim um senhor conversando com outro no lugar reservado aos idosos:
- .......É mesmo?
- É, eu peguei o trem em Nova Iguaçu e era muito cedo, por isso estava sonolento e acabei não percebendo que aquele vagão estava vazio. Quando entrei que percebi alguns militares só que estavam lá, junto com dois homens sentados.
Nesse momento já estava virado para os dois senhores escutando toda a conversa. O senhor percebeu que eu estava olhando e então continuou a falar, mas dessa vez olhando para mim também:
- É meu filho, quando eu vi quem eram os dois senhores, minhas pernas começaram a bambear.
- Quem eram eles? Perguntei, muito curioso.
- Getulio Vargas e o Gaspar Dutra
- Nossa deve ter sido algo muito legal.
- Hoje em dia sim, mas na hora um oficial fardado muito alto e branco veio até mim e me perguntou o que eu fazia ali. Eu disse que tinha pegado o trem pro Centro e sem querer entrei nesse vagão.
- Esse vagão esta reservado para o presidente, você já percebeu, não é.
- Sim senhor, eu percebi. Minhas pernas estavam tremendo demais, estava quase caindo de nervoso. Não sabia se ficava com medo ou feliz porque o Getulio sempre foi bom com o povo, sabe.
- Em que ano foi isso senhor? Perguntei.
- 1938.
- Caramba.
- É meu filho. Nisso veio um outro oficial e falou que eu iria preso no quartel. Fiquei com medo, mas ai o Getulio perguntou quem eu era, eu expliquei e ele disse que eu podia ficar, mas o trem não iria parar. Então eu fui até Curicica com eles e quando iam me prender o Getulio me deixou ir. Afinal eu não tive culpa. Então (hehe) tive de pegar três bondes pra voltar pro Centro.
- Que história fantástica.
Nisso o outro senhor concordou comigo e todos começamos a rir. Chegou a estação maracanã e eu tive que descer do metrô. Agradeci o senhor pela historia e ele disse que era sempre bom contar essa história.
Cheguei na UERJ pensando como aquela viagem de metrô foi boa e como o senhor contava a história com prazer. Dava para perceber a admiração que ele ainda tinha até hoje pelo Vargas.