quarta-feira, 30 de junho de 2010

Insônia e Liberdade

Depois que todos já tinham desistido e se embrulhado em seus cobertores, segui pelas escadas abaixo em direção à porta da casa. Apesar de se tratar de uma cidade pequena, havia duas fechaduras e um trinco na porta. Além disso, ainda havia uma haste de madeira presa a um prego, mas que não estava atravessada à porta. Após algumas tentativas no escuro, acendi as luzes da sala e percebi que não conseguia faze-lo porque uma das fechaduras estava emperrada. Temendo fazer muito barulho, desisti daquela porta e segui para os fundos da casa. Nesta saída, o mesmo esquema de segurança, mas sem fechadura emperrada.

Ao finalmente sair da casa pude perceber a quantidade de cores que o sol ascendente já havia cedido ao céu. Quando notei pela primeira vez que o sol nascia - cerca de dez minutos atrás -, o dia ainda começava a clarear. Naquele instante, já podia contar umas seis cores diferentes ao olhar pra cima. Em contraste com a cromática daquele momento, me recordei da imensidão negra que lá dominara as últimas doze horas. Afogado nos braços da filha da noite, me dei conta que não dera a devida atenção às outras cores que aquele céu me apresentava.

A noite havia sido agitada e ocasionalmente alguns flashes vinham à minha mente. Conforme o sol subia, as cores, que antes tinham apenas um filete do céu cada, agora expandiam seus domínios e faziam do azul mais claro. Assim, a vida local parecia despertar junto ao sol por trás das montanhas. Os patos já saíam com seus filhotes para uma caminhada matinal e dois cavalos já tomavam seu café da manhã ali próximos. Sem contar os pássaros tagarelas que compunham uma orquestra que era ao mesmo tempo perturbadora e acolhedora. Apesar de não conseguir distinguir o que significava - o que, de fato, perturbava - tratava-se de uma bela melodia. Junto ao protagonista da cena, o céu estava vermelho e bem alaranjado em faixas mais curtas. As cores seguintes eram um rosa forte que se amarelava ao longo de sua faixa celeste.

Próximo ao infinito, onde quase nenhum homem pode alcançar, flutuava uma estrela que brilhava muito mais até que o protagonista, erradamente chamado de astro rei, já que trata-se de uma estrela. Eu sabia que para chegar àquela altura eu precisaria estar muito 'high', o que tinha certeza naquele momento. Porém, por pensar muito em qual caminho utilizaria para chegar, acabei a deixando ir embora. Apesar de uma boa parte do firmamento ainda pertencer a Morfeus, não podia negar que aquela estrela era uma das mais belas que passaram por mim.

Conforme o sol se desinibia o ambiente se mostrava mais verde, assim como o amarelado se tornava ao se aproximar do grande azul que já dominava mais da metade do céu. Mesmo sendo claro resultado da fusão de duas grandes faixas cromáticas, a verde empunha respeito lá em cima, ainda mais por refletir a coloração que a mata semi-virgem revelava. O grande azul clareava mais com o passar do tempo para dar boas-vindas a um belo domingo na serra. Logo acima da minha cabeça despedia-se uma lua em crescimento acompanhada de outra estrela. Tão bela que deveriam rechear os olhos de uma princesa com seu brilho e o azul ao seu redor. Mas, apesar de conseguir chegar na região áurea do céu, sabia que não estava 'high' o suficiente para chegar na vizinha da lua. Droga! Preciso tomar um jeito!

Voltei para dentro da casa, que estava bem mais morna. Tranquei tudo que eu podia e subi as escadas em direção ao meu quarto. Apesar de estar sem sono, eram quase sete da manhã e estava um pouco cansado. Deitei-me e ouvi um pouco de música por vinte minutos... Ah! Dane-se! Vou escrever alguma coisa até o sono chegar...