quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Avaliação de Sociologia da Comunicação

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“O gênero sempre é e não é o mesmo, sempre é novo e velho ao mesmo tempo. O gênero renasce e se renova em cada nova etapa do desenvolvimento da literatura e em cada obra individual de um dado gênero. Nisto consiste a sua vida.(Machado, Arlindo. A televisão levada a sério. SP, SENAC, 2005. pg. 69)


Neste mesmo texto, em que Arlindo Machado compôs a afirmação proposta na questão, o autor descreve o conceito de gênero elaborado pelo russo Mikhail Bakhtin: “uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de uma determinada linguagem, um certo modo de organizar idéias, meios e recursos expressivos...”. Referindo-se à nova abrangência que os gêneros passaram a ter com o passar dos anos e o desenvolvimento, sobretudo, da literatura, Machado chega a afirmar que o livro, por exemplo, já pode ser tomado, ele próprio, como um gênero. Se utilizarmos um raciocínio semelhante, podemos propor, também, a TV, o rádio e a internet como gêneros próprios, com suas linguagens, meios e recursos expressivos.

O avanço da tecnologia de telecomunicações, por função, impulsiona uma constante “reconstrução” destes gêneros, o que, por sua vez, proporciona o debate dicotômico (é e não é, velho e novo) necessário para a manutenção de sua existência. De maneira dialética, os gêneros, por serem mutáveis, avançam e adquirem “novos formatos”, mesmo sem perder suas características fundamentais. Tomemos como exemplo o livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. Em sua primeira edição, o livro possuía o formato tradicional referente ao seu gênero (livro), provavelmente com o texto dividido em colunas e páginas. Contudo, com os novos formatos de comunicação permitidos pelos avanços da ciência e, de certa forma, da literatura, a história de Dom Casmurro já pode ser contada por outras linguagens diferentes.

O cinema e a TV, por exemplo, arriscaram a adaptação da obra para seus “certos modos de organizar idéias”, o que não concluiu, decisivamente, para que a peça machadiana não pudesse ser reconhecida como gênero literário impresso. A própria web 2.0, com toda sua linguagem e recursos específicos, propõe uma ampla variedade de modelos de transmissão da estória de Capitu. Enquanto o site www.milcasmurros.com.br permite que o interlocutor assista pequenos vídeos com os capítulos da trama, iBooks e sites especializados se utilizam da tecnologia para proporcionar ao leitor, ao provar de seus recursos, a mesma sensação de ler um livro. Portanto, os distintos gêneros coexistem, evoluem e se transpassam ao ponto de parecerem não serem mais os mesmos, no entanto, nesse processo constante de mutação reafirmam sua existência e suas características fundamentais que sempre serviram para os reconhecerem como tais.